3 de julho de 2014

Água mole em pedras duras



Os estados da nação mudam conforme os olhos que os veem: os do Governo e sua maioria, para quem o país está melhor, irrevogavelmente melhor, e os da oposição, para quem o país piorou. Há um ano, fez ontem exatamente um ano, Paulo Portas escreveu um novo significado para irrevogável, dizendo cobras e lagartos de uma política de austeridade do seu governo, quase tão duro como um líder da oposição - e teria bastado então, numa moção de censura no final desse mês, ler duas cartas para atingir o Governo de forma certeira: a de Gaspar e a de Portas.
Há um ano, o estado a que tínhamos chegado era este - o ministro das Finanças tinha cuidado da sua saída, acomodado na dificuldade de fazer mais em tiro ao alvo ao alvo que bateria a porta no dia seguinte. Ato de dissimulação, escreveria depois essoutro alvo, Portas, e as palavras escritas batem à porta mesmo um ano depois, mesmo que nos cantem agora milagres diferentes da irrevogabilidade de há um ano.
O caminho das pedras, disse ontem Portas, para falar do tempo do "protetorado", não tem em conta que, quando falamos de pedras, não estamos só a falar de dificuldades. Há no português uma leveza que acompanha a palavra - e tantas vezes pedida depois de nos enfardarmos, passe a publicidade. 
Passe a publicidade, de facto, e vamos ao essencial: quando falamos de um caminho como o de Daniela, 30 anos, 1,74, portuguesa de Boston, da leveza que se solta, bem podemos olhar para trás e dizer que os caminhos eram vários e que faltaram muitas pedras assim a um governo que só não tornou irrevogável aquilo que seria certo: o peso da austeridade que pesa tanto nos portugueses.

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