5 de julho de 2014

O discreto charme da (ham) burguesia


Há dias o “Telegraph” chamava-lhe a “hipsterficação” do hambúrguer. E, apesar de britânico, o artigo tem razão. Mas eu chamar-lhe-ia mais a “gourmetização” do hambúrguer. Aliás, hoje em dia é de tudo. Já lá vão os tempos em que um hambúrguer era apenas... um hambúrguer. Ia comê-los às Amoreiras, ao Garden Burguer, entre uma pisadela ou outra numa barata que queria sentar-se ao nosso lado e fazer-nos companhia. E não havia mais nada, a não ser o Great American Disaster, que, por acaso, nunca frequentei. Só que isto das modas parece um gráfico que ora ruma ao céu, ora teima em não sair do subsolo. Depois de (ainda há quê... dez anos?) o hambúrguer ser visto como o pior veneno que se podia dar a um filho, quase tão mau como um robalo acabado de apanhar nas águas de Fukushima, agora é o “pico do Evereste” da gastronomia urbana. Como é que de uma simples rodela de carne de vaca a nadar em gordura, metida entre duas metades de pão de bola, chegou onde chegou? Isto é como se a sociedade gastronómica tivesse permitido à baixa (ham)burguesia trepar por ali acima e ostentar uma vida que não tem, a viver em casas de luxo na curva do Farol e a passear num Lamborghini pago a pronto. O que é isto da “arte” em torno do hambúrguer? Não estaremos a exagerar? Agora é pão do caco, é sementes de sésamo, cebola caramelizada, é agrião, queijo brie ou cheddar, cogumelos, e até (blargh!) tofu! Chega! Uma pessoa senta-se à mesa e leva mais tempo a tentar escolher o que quer comer do que propriamente a comer aquilo. Saibam, senhores “chefs”, que exijo respeito. Sim, porque eu sou do tempo em que, nalguns menus, ainda lá vinha escrito “hamburguesa”!

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