20 de agosto de 2014

A benção do esquecimento

Bem sei que passámos rápido demais da era do “onde estás?” (a pergunta sacramental ao telemóvel) para a era do “estou aqui” (acompanhado de foto, no Facebook ou no Instagram). Mas não quer dizer que eu seja aquilo a que se convencionou chamar “um homem no seu tempo”. Ou melhor, sou um homem do meu tempo. Pode é não ser o vosso… mas é aqui que vivo. E estou bem na solidão. No deserto. No esquecimento. Não quer dizer que não goste estar com quem é bom estar. Mas também gosto de estar comigo. E, por isso, não troco uma viagem a uma cidade cosmopolita, por uma ida a um lugar desconhecido.
Serve isto para dizer que há locais lindíssimos esquecidos na Terra. Até bem perto de nós, algumas aldeias-fantasma nas Beiras, que merecem uma visita.

Outras estão “lá fora. E há autênticas cidades desertas. Ou lugares esquecidos depois de, em tempos, terem fervilhado de vida.

Veja-se a vila medieval de Craco, no sul de Itália, abandonada por todos os que decidiram emigrar nos anos 20… possivelmente serão assim as nossas cidades daqui a uns anitos. É ver o que há de promoções nas "low cost" e apanhar o avião para Roma. Depois há-de haver um comboio para a "ponta da bota". Lá perto, apeiem-se e apanhem boleia de uma bela italiana montada numa Vespa.


Veja-se o caso de Mandu, no sul da Índia, que ainda foi habitada entre 1401 e 1561 (deve ter mais aranhas que Craco e outro tipo de bicharada, por isso é melhor levar um camião-cisterna com Biokill). Há um palácio, templos, monumentos e túmulos para ver. Basta apanhar o autocarro para Madhya Pradesh e perguntar o caminho. Alguém há-de saber…


Se a ideia for um clima um bocadinho mais fresco que o indiano, então, fica a sugestão: Pyramiden. Fica na Noruega e é preciso alugar uma mota de neve para fazer os 40 quilómetros que nos separam de vivalma. Se der uma fome durante a noite, não há McSnowdrive… mas parece que ainda se pode ver uma piscina interior, biblioteca e um cine-teatro. Certo é que ninguém vai lá limpar aquilo desde 1998. É, por isso, desaconselhado a quem tenha alergia ao pó.


Já para chegar à Cidade do Leão, na China, é preciso pedir emprestado um dos submarinos do Portas, o que pode implicar favores em troca porque aquilo, em teoria, é “de todos”. Até ao final dos anos 50, os locais ainda lá iam à loja do chinês, mas depois resolveram construir uma barragem e fizeram daquilo a Aldeia da Luz lá do sítio. Uma pena, uma vez que era uma cidade com 1.300 anos de história, mas é a vida. Viva o progresso. E agora, guess what, é preciso ir à Decathlon comprar um equipamento de mergulho completo para lá ir. Um senão: é demasiado húmido. Por isso desaconselhado a reumáticos.

1 comentário:

  1. Vanda Meneses Santos21 de agosto de 2014 às 10:04

    Adorei o texto! Se os leitores puderem escolher, eu escolho a Cidade do Leão. Mas as aldeias da Beira também servem. Na verdade, qualquer sítio onde não haja televisão.

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