4 de setembro de 2014

Hello boys: tomem boa nota da medida


Em 1994 as paragens de autocarros eram lugares acolhedores. Ela dizia-nos hello boys e nós sorríamos ao cumprimento. Depois olhávamos melhor e a saudação era afinal para outros: ela não nos olhava de frente, espreitava para baixo, para eles, os boys desta equação: breasts, que nunca podíamos olhar como beasts. A inveja não morava aqui, só outro pecado: a gula do olhar.

O anúncio publicitário em forma de cartaz trazia Eva, 41 anos, checa de Litvínov, a sorrir para os boys, usando a maravilha do sutiã maravilhoso (wonderbra, em laurodermês) para melhor sublinhar argumentos. A tecnologia não era nova - já em 1961 se experimentavam push-ups -, mas em 1994 esta campanha divertidamente ousada e inteligentemente ambígua puxava o assunto para a rua. Desconfio que terá sido assunto de autocarro e matéria de retoma económica: a depressão cavaquista era resgatada de forma bem menos dolorosa que ajustes troikistas.

Também desconfio que os politicamente corretos logo descobriram matéria para se queixar do artificialismo de uma fórmula que alegrava todos - mesmo esvaziando eventuais expectativas no momento de tirar o acessório. Recuso a ideia de que tudo tem de ser naturalmente explicado, quando em quase tudo se admite a interferência humana (e, nesta matéria, tantas vezes a divina). 

O grande problema que nunca foi devidamente criticado, analisado, explicado e esmiuçado é outro! - nunca devidamente debatido: afinal, qual é a medida certa?! E não é por nos sentirmos defraudados no momento de abrir os aros. É por nunca ninguém nos explicar a importância de um 32D ou de um 36B (que noutros sítios é 70D ou 80B, para nos confundir), é por não existir uma tabela universal que seja coerente e clara, que regule o comércio internacional cibernáutico, ajudando todos a encontrar o boy certo para tais boys. E é isto que ninguém quer ver. Felizmente temos a Eva para ver. Hello girl.

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